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Quem sou eu?

Na verdade, não sei muito bem quem sou.

Sei que sou o que sinto, do tamanho do que sinto.

Sinto-me viver vidas alheias.

Sinto as dores de quem nem está sentindo, mas eu sinto.

Sou o correr de uma lágrima, antes mesmo de chorar.

Sou um aglomerado de emoções.

Sou lamentos dos meus sofrimentos.

Sou pensamentos e pensamentos.

Sou reflexo das minhas atitudes.

Sou momento.

Sou o esquecer e o lembrar.

Sou a indagação da vida, sou ferida.

Sou o defender, o acusar.

Sou o conhecer do eu diferente.

Sou valente.

Eu sou transformação.

Sou a pessoa mais solitária do mundo,

Mas que nunca fica sozinha.

Sou a pessoa mais forte do mundo.

Mas que está sempre com medo.

Sou o exaltar das minhas realizações.

Sou mãe, sou filha, sou avó.

Sou o encontro de mim, comigo mesmo.

Sou o que sou, me orgulho muito de tudo que sou.

Enide Santos

29/03/2015

Ambos somos felizes quando nos amamos

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Ambos somos felizes quando nos amamos

Ah, meu amor!

Ah, meu amado!

E assim:

Enxugo os olhos do riso que te dei

Toldo de horas

Com os momentos que cavei

Banho-me na sensação do teu olhar

Dou-me de presente o teu respirar

 

Ambos somos felizes quando nos amamos

Com o liquido da noite

Com o qual se banham as florestas

Eu me exibo

Eu me testo

O cio lentamente passa

Não para

Atravessa

Exala.

 

E assim:

Somos igualmente amados

Saciados um do outro

Nesta noite

Neste esboço.

 

Enide Santos 29/03/15

26/03/2015

A peça que dentro da noite o tempo forjou.

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Hoje voltei àquela noite

sentei-me ao lado de nós.

Mal pude me conter

assim que vi você.

 

Parecia ter o mundo em tuas mãos

e o dava inteiro a mim.

Extasiada pelo momento

nada pude e nem poderia dizer

por que palavra alguma

jamais caberia ali

entre eu e você.

 

Hoje voltei àquela noite

sentei-me ao lado de nós.

O tempo parou

delicadamente, sem pressa,

fora esculpindo naquela noite

os trajes que hoje me visto.

 

Agora choro, não sei bem porque

talvez por não poder possuir

a peça que dentro da noite o tempo forjou.

 

Hoje voltei àquele momento

em que você me presenteou com uma noite.

Sem lua, sem estrelas

Uma noite de pele nua,

Tão minha

Tão tua.

 

Há ainda o eco de tua voz a dizer:

Guarde está noite

Onde apenas existe eu e você.

 

Enide Santos 26/03/15

07/03/2015

Acordo dentro do meu sono eterno

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Acordo dentro do meu sono eterno

buscando ainda os pulsos de meu coração

vejo que minha vida não foi esperta

que fora banida de mim

Sem resgate, sem regresso

 

Ainda ontem eu tive um ontem

e não mais o terei.

não haverão mais lágrimas

nem risos

não existiram mais sons

 

Apenas respingos de mim

bordados, grafados

preto no branco

pedras, montanhas, lembranças

ódio ou amor tudo agora dorme comigo

 

Não vomito mais cólera

já não deserdo minha história.

já não acordo os meus sonhos

não os ouço mais se mordendo dentro de mim

não mais posso entreter o tempo

nem escutar o vento.

 

Não há ar

Não há dor

Nem silêncio há

Nem mesmo a solidão,

faz reivindicação.

 

É, é no instante do esquecimento,

que mais me entendo.

 

Enide Santos 07/03/15

04/03/2015

Por que te admiras José?

 

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Por que te admiras José,

Quando falo quem tu és?

És um carpinteiro de almas

Delineador de histórias,

Fazedor de memórias.

 

Tu não sabes quem tu és, José?

Tu, dentro de ti não te podes ver.

A tua boca derriba o mal

O teu olhar espelha o matinal.

 

Oh, Jose! Por que te admiras?

Se as obras de suas mãos

Converteu-as em pão.

E por uma longa temporada

Alimentou a luz de nossa estrada.

 

Homem escultor de muleta

Esculpidor de profeta

Orientador, educador

Do nosso senhor, fora tutor.

 

Por que te admiras homem de fé

Se pelo verbo encarnado

Fora por pai adotado?

 

Enide Santos 04/03/15